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Os efeitos de 2020 nos preços dos ativos

O ano de 2020 pode ser considerado um ano bastante atípico para os preços de mercado. A pandemia da Covid-19 balança os preços dos ativos, e esses fatores elevam a incerteza no mercado. 

No caso das empresas, por exemplo, o lucro é geralmente colocado como o principal fator para sua valoração. Mesmo considerado estritamente verdadeiro no longo prazo, no curto e médio prazo, muitas vezes sinais (ou ruídos) políticos são pontos focais na narrativa sobre os preços de ativos. Detalhe: estamos falando do Brasil. O assunto eleições, por exemplo, tende a trazer muito mais volatilidade para os ativos do mercado brasileiro e da América latina que em países asiáticos.

O ponto é …

Meses após o início da pandemia no Brasil, um dos assuntos que mais movimentam a narrativa sobre as variações nos ativos passa da saúde para a política. Apesar de dados de atividade econômica mais recentes terem dado suporte para recuperação de preços, as autoridades brasileiras decidem, como consequência da pandemia, por ampla resposta fiscal. 

Resposta Fiscal vs PIB

Fonte: Banco Central do Brasil

Os dados do Banco Central mostram que as medidas já anunciadas têm magnitude de cerca de 9% do PIB. É visível que o Brasil, em proporção do PIB, gasta de forma semelhante aos países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e Alemanha, com maior facilidade para financiar tais gastos, ou, pelo menos, menor custo para executá-los. Diversos países emergentes gastam menos de 4% do PIB em respostas fiscais com intuito de diminuir os efeitos econômicos da pandemia.

Os preços de mercado vêm se recuperando das mínimas do ano. O impulso fiscal, mesmo alto, é considerado um outlier, ou um ponto fora da curva, no país que defende a responsabilidade fiscal. 

No entanto …

Muitos ruídos políticos entram no radar dos investidores, e a visão de um governo responsável com o dinheiro público é abalada. 

A popularidade do governo vem em baixa durante boa parte do primeiro semestre do ano, inclusive com a palavra impeachment aparecendo em alguns veículos de imprensa. Ao final de setembro e início de outubro, ocorreu uma grande melhora na avaliação, principalmente nas regiões mais humildes do país. Assim, o link do auxílio emergencial com a popularidade do governo é considerado, e a busca por nova proposta que aumente as transferências de renda, com novo programa para substituir o Bolsa Família, começou.

Primeiro aparece o programa Renda Brasil. Depois de ruídos, o PR, em vídeo, argumenta que quem falar em Renda Brasil novamente será exonerado do cargo. O aparente motivo é que o ministério da economia havia proposto o congelamento do salário mínimo por um período de 2 anos e o fim do abono salarial para financiar o programa, medidas consideradas muito impopulares. Assim, o PR disse que não tirará dinheiro dos pobres para dar aos muito pobres.

Passada a “primeira onda”, o programa tem seu nome alterado e continua a ganhar espaço na mídia. Renda Cidadã, Renda Brasil, pouco importa o nome: o objetivo de aumentar as transferências para as pessoas mais necessitadas não sai do radar. O verdadeiro problema não é o fim, mas o meio: nenhuma nova fonte de financiamento é estabelecida, o que gera um grande ruído no mercado.  

Entre idas e vindas, o respeito ao teto de gastos e o futuro de Paulo Guedes frente ao Ministério da Fazenda, maior defensor do teto, são colocados em dúvida. Seriam os últimos anos de um mínimo de responsabilidade fiscal jogados no lixo?

O governo anuncia o novo programa de renda. Financiado por precatórios e por dinheiro destinado à educação.

Como assim?

Simples. No primeiro, o governo paga menos dívida de precatórios (que já estão destinadas no orçamento), o que seria um calote de dívida, e utiliza esse recurso para financiar o programa. No segundo, um percentual do FUNDEB é utilizado para tal. Ambos não foram escolhidos sem motivo: não entram na conta do teto de gastos. Os participantes do mercado percebem tal proposta como um drible ao mesmo. Como teria Paulo Guedes permitido tal medida? Teria ele perdido espaço no governo?

Fato é que a cotação do dólar dispara da casa dos R$5,20 / R$ 5,30 para R$5,50 / R$ 5,60, o Ibovespa recua de 105 mil pontos para pouco mais de 93 mil pontos e os títulos de dívida do tesouro têm taxas bastante elevadas devido ao risco fiscal. Além disso, reformas e programas que realmente podem melhorar a vida dos brasileiros ao longo do tempo, de forma sustentável, basicamente saem das manchetes e não tem perspectiva de aprovação em período próximo.

A reação negativa nos preços de ativos parece ter auxiliado a classe política a entender, pelo menos temporariamente, que essas medidas, da forma como propostas, não são benéficas para o país. Novas afirmações do PR, do presidente da Câmara e de outras autoridades relevantes, dando um passo atrás nessa proposta totalmente sem nexo, servem de plano de fundo para levar o Ibovespa novamente a casa dos 100.000 pontos e a curva de juros e dólar a, pelo menos, diminuir o stress.

No país em que propostas políticas têm mais ondas que a pandemia, quem é o professor mais importante do Brasil? Infelizmente, não sabemos dizer. Em 2020, os preços de mercado, quem sabe, mereçam concorrer ao prêmio. 

Autor: Hugo Szmidt Neto – Mestre em Economia.

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